A Técnica de condução

Santos 1 - Neves 12 - Romao 17
Varias formas de abordagem salto



Decididamente o tipo de preparação que as 50cc tinham e o formato das pistas/corridas Portuguesas gerou até princípios dos anos 80 um tipo de condução/atitude muito especial em três gerações de pilotos.



"Janica" Raposo"

"Tokas"






A preparação típica das 50cc nacionais tornava-as bastante estáveis a alta velocidade e muito resistentes ao tipo de circuitos que tínhamos, mas completamente ineficazes em circuitos/saltos técnicos,

1979 - Puch MC Professional vs ARC Sachs
na prática eram guiadas mais “à força” do que com técnica limitando assim a evolução dos pilotos, muitos quando fizeram a transição para outras cilindradas pilotavam-nas como se fossem 50cc e a adaptação/aproveitamento ideal às motos modernas foi lenta.

1978 - Campeonato Regional Sul 125 - Montesa Cappra VB vs Suzuki RM

Em circuitos onde dificilmente cabiam 2 motos lado a lado ( Ver As Pistas ) era essencial uma boa partida e havia quem tivesse uma agressividade excessiva para lutar pelos lugares da frente ou mesmo defender a posição, “o maior perito” que tínhamos neste tipo de condução era o “Monas”, João Gouveia, antigo piloto do GICA – Ginásio Clube de Águeda - homem já com muitos anos de pilotagem dura na época alta das provas piratas.

Este tipo de condução ficou conhecida como a “Escola do Monas” – muito sofri eu com ela nos primeiros tempos...




1983 - Agueda – VIII Grande Premio Outono em Portugal - Pista do Salgueiró ( Casal d’Alvaro )
O “MONAS” vai partir uma Kawasaki ao meio nesta prova
Video RTP aqui
A par desta agressividade existiam uma quantidade de “truques da velha escola” tais como no momento de maior concentração na partida alguns pilotos fecharem a torneira da gasolina ao companheiro do lado ou pôr-lhes uma mudança acima/abaixo.

Nos anos 80 estas habilidades passaram a ser feitas no parque fechado, areia no deposito, porcas da cremalheira desapertadas, varetas de travão semi-serradas, situações que foram desaparecendo gradualmente com a chegada de novos pilotos e com verdadeiros parques fechados. ( ver As Organizações )

Fernando Neves

Poucos pilotos conseguiam manter um ritmo alto em 4 ou mesmo 6 mangas de 45 minutos, por vezes sem descanso entre mangas, Fernando Neves e Rodrigo Ribeiro faziam parte deste clube de super-homens sobretudo nas cilindradas superiores 250/500cc, para lutar com estes “rapazes” era fundamental o apuramento das nossas melhores qualidades e fazer uma gestão de corrida inteligente.


1983 - Agueda Prova Internacional - Yamaha YZ 125 K
Yamaha YZ 125 K

Uns eram mais técnicos, outros com velocidade em curva muito boa, rápidos na lama, nas descidas ou até a improvisar trajectórias novas.


Zé Carvalho também se destacava pela sua condução excessiva ( não agressiva ), muitas vezes compensada pela moto,

1979 - Mav Sachs 50 - Avenal                                                                  1983 - Yamaha YZ 125 - Cortelha

1979 - Romao ARC AIM Sachs vs Carvalho MAV Sachs

considerado por muitos na época como espectacular, mas na verdade nada eficiente – o próprio o confirma pouco tempo antes do seu acidente.
Neves ganhou muitas corridas levando-o à exaustão, o acidente na Cortelha onde ficou paraplégico deveu-se em grande parte ao seu excesso.

Entrevista parcial - Ze Carvalho - Jornal Motocross 1983

A combatividade na pista era extensiva ao ambiente nas boxes. Existiu uma fase em que muitos pilotos, assistentes e Pais de pilotos andavam de caçadeira dentro das carrinhas pois por vezes as disputas acabavam ao estalo fora da corrida. O publico sempre presente ajudava a serenar os espíritos ( ver O Publico ).

Tal era a adrenalina que nem nas viagens de regresso a coisa acalmava…




Os estrangeiros que correram cá nessa época, mesmo os melhores do mundo, e que tinham uma técnica extraordinária ficavam espantados com tanta agressividade, mesmo quando dobravam os pilotos. Chegamos a ter pilotos fugindo da “pancada” de varias formas, Munoz fazendo corta mato numa partida menos boa para evitar ser trucidado pelos Tugas em furia, Rahier “nas couves” apertado pelo Neves... 

1983 - Jornal do Motocross - Jorge Morgado - Prova Internacional Portimão


e até numa corrida internacional em Águeda, onde aquilo mais parecia uma pista de carrinhos de choque, com os estrangeiros presentes um bocado atarantados.

O contrário, ou seja pilotos nacionais correndo no estrangeiro já não resultava tão bem, a agressividade/combatividade não era suficiente para esconder a falta de hábito a pistas técnicas, houve até um caso de um piloto já Campeão Nacional Senior 125 dos anos 70 que no dia da prova ao ver os saltos se recusou a correr…

Mongay - Campeonato Mundo


Mongay - Campeonato Mundo
Em Portugal perdia-mos 5 a 10 segundos por volta para os campeões do mundo, no estrangeiro “levávamos por vezes mais de 20 segundos”.

Manuel Massadas, Jose Santos, Bernardo Ferrão e Mario Kalssas eram alguns dos pilotos com muito boa técnica que podiam ter ido bem longe com uma maior participação Internacional.

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2 comentários:

Unknown disse...

O Arlindo Bernardino não era o kamal? Alcunha que lhe veio de cai mal?

Miguel Romao disse...

Em muitas corridas anunciado como o Belga Camal ( Philippe Camal ) que chegou a correr nalgumas provas do norte

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