Os Super-Homens


Fernando Neves                                                                              Rodrigo Ribeiro
De dez em dez anos aparece habitualmente um piloto fora de série, quer internacionalmente quer nos diversos campeonatos nacionais. Naquela que é considerada a idade de ouro do motocross tivemos em Portugal uma rara concentração de muito bons pilotos, sendo dois deles, verdadeiros super-homens. 


1981 - Prova Internacional Agueda
Esquerda para direita
Bernard Pascual - Fernando Neves - Gaston Rahier




Estes super-homens para alem de aguentarem no mesmo dia seis ( 6 ) mangas de 45 minutos, treinos incluídos  em 3 classes diferentes, pela sua força bruta eram também capazes de ganhar corridas a alguns dos melhores pilotos mundiais.




Os “rapazes” chamavam-se Rodrigo Ribeiro e Fernando Neves, ambos possuidores de uma força e resistência inacreditável mas com diferentes aproximações ao motocross.

1981 - Prova Internacional Agueda

12 Fernando Neves, 1 Gaston Rahier

Curiosamente para estes homens que se iniciaram nos anos 70, o alvo foi o excelente piloto Manuel Massadas, tendo sido o Rodrigo o primeiro a batê-lo constantemente em corrida e mais tarde o Neves a ultrapassa-lo no record de títulos.

Manuel Massadas

1983 - Jornal Motocross


 
Para o Rodrigo Ribeiro a sua preparação assim como da moto eram quase secundárias, “...A minha preparação física é o meu trabalho, que é bastante duro, pois trabalho de manhã à noite , com máquinas de terraplanagem, penso que é suficiente… ( Ver Entrevistas ) de facto no seu auge chegava para bater pilotos nacionais e alguns campeões europeus que por cá correram.

Em competição tinha a atitude da primeira geração de pilotos do norte, com ele o “chega para lá á antiga” era brutal.

1983 - Simopre - Prova Internacional
Trofeu Silva Pinto

2 -  Rodrigo Ribeiro, 24 - Manfred Hatkinson

Para o Fernando Neves a preparação da moto era muito importante, ( Ver Entrevistas ) sempre soube afinar bem as motos e tinha um excelente mecânico ( Vieira ). Na fase em que já estava integrado no Team Goldoni e corria as tais seis mangas de 45 minutos no mesmo dia, a preparação física passou também a ser relevante, chegou a treinar com a equipe do futebol clube de Vendas Novas.
Team Goldoni 1981
Esquerda para direita
Fernando Neves, Quito da Silva, Jorge Leite

Ora força bruta, preparação física e uma das melhores motos do País tornava a missão de o bater quase impossível, tinha também um enorme “calo” de competição e uma excelente adaptação/improviso á degradação das pistas.

O Zé Carvalho que chegou a ser o mais rápido piloto Português em velocidade pura era levado constantemente à exaustão pelo Neves que preferia segui-lo, desgastá-lo e a uma ou duas voltas do fim ultrapassá-lo…

11 Zé Carvalho - Yamaha YZ 125, 1 Fernando Neves - Suzuki RM 125

Alguns pilotos esperaram pacientemente que ele abandonasse as classes em que corria ou deixasse de correr de vez para serem campeões.

Mario Kalssas                                                              Jorge Leite

Inicialmente sendo ambos um pouco parcos tecnicamente, era impressionante ver a forma como os dois pilotos recuperavam de situações impossíveis em saltos ou pistas mais técnicas.


Rodrigo Ribeiro


Fernando Neves

O Rodrigo era uma presença constante nas provas até 1983, a partir daí aparecia esporadicamente e a sua força bruta com andamento um pouco enferrujado em motos de origem nada podia contra as muito bem preparadas do pelotão da frente, encabeçadas pelo inacreditável Neves,


a pouco e pouco foi perdendo a motivação até que se mudou para o Autocross. Ainda hoje acredito que o Rodrigo numa excelente moto e alguns cursos de pilotagem teria resultado num Heikki Mikkola ou Hakan Carlqvist Português.

No estrangeiro, em pistas mais exigentes, com outros pilotos mais completos a diferença já não era tão notória. Ambos representaram Portugal na Taça e Trofeu das Nações.

‎1981
Taça das Nações - Italia
Coupe des Nations - 125cc - Casale Monferrato

29 - Fernando Neves
30 - José Coutinho
31 - Mario Kalssas
32 - Rodrigo Ribeiro

È também visível Victor Calado ( pai ) de pé dentro da box


32 Rodrigo Ribeiro, 30 José Coutinho

‎1981
Taça das Nações - Italia
Coupe des Nations - 125cc - Casale Monferrato



37 Fernando Neves, 39 Miguel Romão

1983
Taça das Nações Suiça
Coupe des Nations - Roggenburg

A titulo de curiosidade lembro-me de uma prova de extremo calor em Vagos o Jorge Leite e eu termos chegado ao fim no limite da exaustão, nem conseguíamos sair das motos ficando sentados nelas encostados ás carrinhas, o Rodrigo ao contrario chegou, saiu da moto ( maico 250 ), pegou nela e colocou-a sozinho em cima de um camião de caixa aberta… nem no Mundial vi tal força….       ( talvez o Gennady Moiseev, mas esse para além de correr era do exército russo ).


Rodrigo Ribeiro - Maico 250

 
O Rodrigo tinha na época a alcunha de “Arranca Pinheiros”, não sei se proveniente de um pequeno pinheiro que eu vi ficar em mau estado pelo braço oscilante e roda da mota ou da sua profissão de terraplanagem ou simplesmente por ser um “Homem forte” significado do dicionário...
 

Automundo 1981
Afonso Cerqueira
Sendo o Motocross uma modalidade muito exigente todos tínhamos algum cuidado com a alimentação, no meu caso chegava a perder 4 a 5kg por corrida/dia , assim que as barras e bebidas energéticas estiveram disponíveis em Portugal tornei-me um adepto. A aproximação dos “rapazes” era outra.. não raro gigantes almoços em que um sozinho pedia uma garrafa de tinto para experimentar, outra de branco e mais uma de tinto porque afinal o tinto era melhor..







1979 - Campeonato Nacional 50cc
1 Neves, 17 Miguel Romao
Em boa verdade 1979 foi o ultimo ano em que uma moto super bem preparada ainda fazia alguma diferença, depois até 1985 foi o reinado Neves.



1 comentário:

Penafidelenses.pelo.mundo disse...

Um belo pedaço de história ... Obrigado

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