A Segurança

As pistas eram muito mal delimitadas e até finais dos anos 70 existiam muito poucos fiscais de pista, na maior parte só estavam presentes em duas ou três zonas complicadas.

Nalgumas piratas, como o importante era o espectáculo, havia uma tendência sádica em mostrar a bandeira verde mesmo em caso de acidente, na realidade fiscais e publico estavam lá “p’ró desastre…”, o comportamento do publico era caótico ( ver O Publico ).


Os seguros na prática não existiam, sempre foi um constante pedido à federação que existisse um seguro anual por piloto federado e não os pagos com a inscrição no dia da prova que na prática só existiam no papel como pude comprovar ao longo dos meus diversos acidentes. O Team Goldoni tinha um seguro próprio por piloto de acidentes e responsabilidade civil.

De inicio raramente as ambulâncias existiam nas pistas, caso necessário “alguém” iria pedir ajuda aos bombeiros mais próximos, após grandes guerras com a federação lá conseguimos pôr duas permanentes por prova de campeonato e uma por prova “federada”, não sem termos ouvido alguns berros do presidente perguntando se não queríamos também helicópteros tal era o nosso extravagante pedido. ( Ver Entrevistas - 1985 - Jorge Leite )

Os hospitais regionais não estavam minimamente preparados, e por vezes até os das cidades.

Em 1978 tive um “trambolhãozinho” que deu em traumatismo craniano com perda de consciência durante 2 dias, a confusão resultante foi a mais diversa; fui transferido sucessivamente de hospital em hospital onde ia perdendo ( roubados ) também os “pertences”, no ultimo até perderam a minha identificação… resultado, quando a minha Mãe me tentou encontrar estava dado como morto ( mas nada de corpo ), entretanto o mecânico que me dava apoio estava em parte incerta e o seguro de prova quando foi necessário accioná-lo só existia no papel…

 1980 - Paredes - Campeonato Nacional 125 - Eu no chão...

Em 1980 noutro encontro imediato com a pista rachei duas vértebras, iniciei o tratamento quase instantaneamente, ainda no chão e sem respirar levei uns pontapézinhos para perceberem se estava vivo ( comentário de uma espectadora já com alguma idade e biqueira larga – “este já se foi, eu sei porque o meu marido também era ciclista” ).

Após passar os testes populares dei entrada numa ambulância que devia ter sido usada na guerra de África, os modernos procedimentos para poli-traumatizados não existiam, pegaram-me pelos pés e mãos deixando-me cair na maca e lá fui guiado por dois bombeiros que um pouco chateados por não poderem ver a corrida e um pouco excitados por levarem um piloto me iam mostrando os seus dotes de condução tentando derrapar a ambulância sempre que possível enquanto variavam os diversos tipos de sirene que tinham e mais uma vez a sucessão de transferência de hospitais.

Desta vez não me perderam pois já estava casado e a minha mulher em pânico ( nada habituada a estas lides ) me acompanhou.

Uns tempos depois o nosso grande amigo Bernardo Ferrão num
acidente a baixa velocidade morreu numa situação semelhante.


Bernardo Ferrão








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