As Organizações


Ser organizador de uma modalidade em crescimento explosivo não era tarefa fácil, sobretudo em Portugal nesta época.

Autosport - 1983

Organizações - Os locais
Automundo 1982

para alem das pistas das marcas importantes, Sachs e Casal ( ver Pistas ), os organizadores estavam limitados pela disponibilidade dos terrenos, chegámos a ter provas em locais onde as nossas carrinhas dificilmente chegavam e donde também não saíam nos dias de lama.. ( só puxadas por tractores )
 
Automundo 1979














Tudo valia, desde os terrenos à volta dos campos de futebol da zona ( até convinha ), passando pelos cedidos temporariamente, até aos bem profissionais onde eram feitas as provas internacionais e do campeonato nacional

Raramente eram organizadas provas em que a receita revertia para o desporto e pilotos.


Organizações - O calendário

Para encher ainda mais o recinto, as datas das provas eram “cientificamente” escolhidas, o Calado e os “clubes recreativos" de localidades próximas, tentavam não colar no calendário uma prova à outra para haver intercâmbio de espectadores entre zonas.

No dia do evento lá víamos nas estradas massas de atrelados puxados por tractores cheios de público a caminho da prova.

O Team Laranjina C mais tarde usou um sistema semelhante

Existiram também acordos com as GNR’s locais para acabar com as piratas, ( GNR’s e Bombeiros também tiveram direito às suas provas de apoio ) ( ver Federação )




Organizações - A promoção

Todas as provas ( mesmo as piratas ) colavam o habitual panfleto numa vasta área à volta do acontecimento, ainda não existiam muitas rádios locais

Difícil era encontrar a pista, tal o sítio onde a plantavam..


Só o 1º Grande Premio em  Águeda teve a devida promoção na Tv

Águeda sempre foi um caso especial, aparte alguns pormenores..



Organizações - O recinto

Após local estabelecido, o tratamento que lhe davam era variado
Organizações

A peça mais importante era o atrelado de caixa aberta onde tudo se concentrava, organização, taças, cronometragem, presidente da junta e família.

Nos dias de chuva levava capota para facilitar ainda mais a cronometragem…

A receita da bilheteira raramente estava no atrelado, porque quando as coisas não corriam bem havia o risco de o publico exigir o dinheiro de volta !!

Parque do publico e boxes eram na maior parte das vezes zonas abertas e éramos nós que escolhíamos onde queríamos estar, mais à sombra ou onde a carrinha conseguia chegar. Depois delimitávamos as nossas zonas.

Houve pilotos Internacionais, presentes em 83 / 84, que viam o nosso Motocross muito semelhante ao País deles de à dez anos… ( Ver Entrevistas - 1984 Maurizio Dolce )

Antes das galinhas acordarem já tínhamos romarias em direcção à pista e havia quem optasse por ficar de véspera a dormir no circuito, para os pilotos era muito difícil ter-se acesso com tanto carro e gente numa estrada mínima.

Parques de verificações técnicas, pré-grelha e boxes vedadas ao público eram raros, mas
curiosamente quando existiam certos acompanhantes de pilotos faziam algumas“habilidades” ( ver Tecnica de condução ).

Na prática estávamos melhor no nosso castelo !!
1980 - Yamaha YZ 125 G - Team Goldoni


1980 - Motor





Organizações - A bilheteira

Houve provas importantes com mais de 8000 espectadores pagantes que chegaram a ter 3 tipos de bilhetes no mesmo dia e só a percentagem da receita de um ( 10 % ) reverter para a federação.



O Motocross financiava literalmente tudo… chegando até a promover clubes de futebol ( muito deve o Futebol Clube de Penafiel ao Motocross )...

...equipes de ciclismo, centros paroquiais, bandas filarmónicas… e até a Velocidade dependia dele.










1980 - Penafiel
5 Miguel Romao - 9 Jorge Leite - Team Goldoni - Yamaha 125 G




Motor 1983 - Jorge Morgado
Organizações - A segurança

Ambulâncias e rega por vezes só eram pedidas após já existir bilheteira feita...
( ver A Seguranca )

à excepção das boas organizações a delimitação da pista fazia-se com fitas entre árvores e pneus protegendo-as das motos que lá vinham…

o publico controlava a largura da pista em função da competição ( Ver O Publico )






Organizações - A cronometragem, classificação e fiscalização de pista

Era assunto sério e variava desde o mais improvisado ao mais profissional

Particularmente nas piratas e extra-campeonato, toda a comunidade local participava, os homens tratavam da pista, controle de bilheteira e outras facturações...

as crianças ficavam com a responsabilidade das bandeiras - fiscais de pista

1979 - Yamaha YZ 125 F - Team Goldoni


1979 - Puch MC Professional 50 - Team Goldoni


1981 - Jorge Leite - TGM 125
As senhoras mais letradas e os reformados tinham a responsabilidade de zelar pelo volta a volta...

...como aquela gente tinha alguma dificuldade em distinguir as ámotoras e os pilotos cheios de chão ( sobretudo nas provas de lama )

no fim as classificações eram as mais diversas, razão para muitas horas de atraso na entrega dos prémios.

Em ultimo recurso, lá estava o Carlos Barreiros vendendo as suas classificações...
( Ver Comunicacao Social  )

Por vezes estava pronto um lanchinho para a entrega dos prémios, mas ao fim de horas de espera os pilotos esfaimados vandalizavam o dito.



prémios entregues já noite dentro
Santos - Neves - Romao

1983 - Extra Campeonato - Ponte da Asseca

Kalssas e Santos já prontos e ansiosos pelo regresso a casa...
O engenho Português não se ficava só pela modificação / melhoramento das “ámotoras”. À falta de cronómetros ( se é que alguém sabia trabalhar com eles ) faziam duas pequenas corridas de 10 minutos, uma com os pilotos de dorsal par e outra de dorsal impar, a grelha de partida era ordenada pela ordem de chegada destas pré-classificações, e depois então a corrida principal de 2 mangas de 45 minutos mais 2 voltas, essa sim já pela cebola ( mas isso era a parte fácil ).

Este sistema chegou a ser utilizado nalgumas provas do Campeonato Nacional

Lembro-me de uma prova na zona da Malveira em que nos deixaram rolar quase 60 minutos porque as bifanas e as mines estavam a vender bem… entretanto as motos iam parando por falta de gasolina…

Para as provas do campeonato o Calado ( Ver Federação ) contratava a equipe de cronometragem da Longines, Omega em 1979, que era também a do Autódromo do Estoril, só era complicado quando existiam várias provas no mesmo dia a necessitar dos cronómetros tendo a equipe de se desmultiplicar e lá surgia a confusão.

A relação da Longines com a imprensa nunca foi a melhor ( os jornalistas não tinham a paciência dos pilotos )

Motor 1979





























Organizações - Prémios de corrida

Eram habitualmente taça e prémio monetário até ao 5º lugar, nas boas organizações até ao 10º. Por vezes a taça era substituída por lembrança alusiva ao local, lembro-me de algumas organizações substituírem a taça por lagosta ( com os prémios expostos um dia inteiro ao sol sempre duvidei da qualidade do bicho ).


As provas de campeonato tinham uma tabela que regulamentava o valor dos prémios, não podendo ser inferior a determinada quantia, obvio que todas as organizações nunca ultrapassaram esse mínimo !!!

Muito raramente tivemos provas cuja receita revertesse totalmente a favor do motocross / pilotos.

1979 - Autosport

Organizações  - Subsídio de deslocação

A dada altura e como eram sempre os mesmos na tabela cimeira das classificações, a federação, de forma a fomentar a participação e evolução de novos pilotos, introduz o subsídio de deslocação que era pago ao quilómetro tendo como base a residência da carta desportiva do piloto.

1979 - Motor
Muitos repentinamente passaram a viver no Algarve, o Calado ( Ver Federação ), sabendo a real situação não aceitou. Alguns ainda tentaram… já com carta desportiva emitida noutro local, apareceram nas provas com certidões de residência do Algarve, pagando as organizações os respectivos subsídios, o que deu direito a suspensão de licença.


1a prova de Campeonato 500cc em Portugal

Organizações - Prémios de presença

Houve uma fase em que tal era a quantidade de provas que não existiam pilotos suficientes e os organizadores para terem uma cabeça de cartaz garantida pagavam prémio de presença aos pilotos mais importantes, era comum anunciarem-nos no mesmo dia em locais diferentes e só depois nos contactarem.



Erro crasso, pois uma presença bem trabalhada era bem superior ao 1º Lugar, e da noite para o dia os pilotos tornaram-se “empresários" negociando a sua presença no local.


Nem precisávamos de ganhar, bastava estar lá… foi nessa fase que se começou a saltar sem mãos e outras habilidades para o espectáculo. 
1983 - Yamaha YZ 125 K
1984 - Yamaha YZ 125 L



Organizações - Os estrangeiros e os prémios

Para alem da “bordoada” que levavam em pista também tinham tratamento especial fora dela, é que “de vez em quando” vezes remontávamos as taças com a base do primeiro e o topo do último, e lá iam eles todos felizes e contentes com as taças tipo “anãozinho”.

Após fotografia do evento e já de taça na mão, aconteceu na hora de receber o dinheiro o organizador ter desaparecido.

1983 - Trofeu Internacional Jornal do Motocross


Organizações - Quando as coisas corriam mal…

Habitualmente as melhores organizações/pistas que eram da responsabilidade de pilotos ou mecânicos corriam bem, no entanto a única prova organizada pelo Zé Santos foi a excepção que confirmou a regra.

Tudo o que não devia ter acontecido, aconteceu !! Chuva torrencial e o público sem aparecer, o que era raro, porque mesmo molhados não faltavam à chamada.

O Zé sem receita suficiente para prémios e outros custos propôs a indemnização em forma de géneros, como trabalhava com os pais na industria do mobiliário abriu as portas da oficina e pôs à disposição as existências...

achei aquilo tudo bastante deprimente e voltei para casa, no entanto sei que alguns na necessidade de um “conjunto de sala de jantar” ou de “quarto” se esticaram…
a partir dessa prova o rapaz passou a olhar para os “colegas” doutra maneira.…


Por vezes o publico exigia o dinheiro de volta
 
1983 - Jornal Motocross

Organizações - Formas de partida

Inicialmente os pilotos tinham de ter a mão da embraiagem no capacete e só na bandeirada larga-la, como resultado tínhamos pilotos de cabeça encostada ao volante e até uma 2a manete de embraiagem no lado do travão.

Arranque de mão no capacete

Passou-se por uma fase em que os mais lentos eram postos na linha da frente e os mais rápidos na de trás, também não resultou muito bem pois havia quem fizesse maus tempos de propósito para ficar sempre à frente.
1976 - Algueirão - Pista da Barrosa - Organização Almerindo Ribeiro Cruz

( A ) Raposo - Simonini  / ( B )  Romao - Gilera / ( C )  Leite - Casal

As grelhas de partida até chegarem ao formato moderno tiveram diversas versões.

Inicialmente eram muito curtas o que dava que os pilotos da fila de trás ( com tempos mais fracos ) não esperassem pelo cair da grelha e arrancassem pelo lado de fora.

Noutra fase já largas mas frágeis dobravam/partiam com a força das motos e tínhamos de esperar que fossem reparadas para nova partida.

Noutra versão ainda, com a grelha a cair para a frente, todos olhava-mos para trás porque na realidade a grelha caia ao sinal do fiscal de partida posicionado nas nossas costas.

Até que lá se evolui para a versão moderna.

A partida mais comum sempre foi o responsável depois de confirmar que estava tudo bem caminhar em frente e de costas para a grelha dar a bandeirada, só não sei como nunca o atropelámos


Os organizadores fossem eles moto clubes, associações desportivas, clubes recreativos, comissões de festas, clubes de futebol e afins ( Federação incluída ) salvo raras excepções nunca souberam cuidar da galinha dos ovos de ouro.

Houve outras modalidades bem melhor tratadas pelas mesmas entidades.

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